Fui no médico de olho
E descobriu-se que há
Um cisco no meu olho esquerdo
Entendi que por conta disso
Aprendi a enxergar
Só pelas tangentes de mim
E fui tropeçando a vista nos outros
Comecei vendo toda a vida embaçada
E a mim mesma em tudo, misturada
Até alcançar uma visão embargada
De diferente compreensão
O cisco causou cisão no meu andar
Síncopa no meu coração
Delírio de palavra
Coceira de ver o mundo na totalidade.
'Deve arrancá-lo do olho', receitou o médico
Mas fiquei a me perguntar:
Como fazer isso sem levar
com o cisco o meu olhar?