Trilha Invisível

Restará ainda uma palavra no céu de minha boca que nunca foi trilhada?
Como floresta não mapeada, fora dos satélites?
Haverá lugar deserto que jamais conheceu traços humanos?
Rio, corredeira, águas que nunca banharam o corpo nu de um outro como eu?
Haverá algum idioma desconhecido, estrangeiro a toda a espécie,
como serpente desprovida de nome em latim?
Um pôr-de-sol de altura, pico ou monte jamais visto pelos olhos de um outro como eu?

E ainda o 'vazio' escondido em qualquer parte que justifique a existência do vocábulo?

Devo lançar novas cordas ao abismo. Porém, convém não descê-lo.
Devo lançar pedras óbvias no infinito, para que ninguém mais as possa ver.

Desenhei a custo, pena e paciência
A cratera imaginada dos meus espaços internos
Feita do avesso dos meus dias
Pela inédita alegria de poder anunciar, só para mim
Um amanhecer desnudado de raios.

(Fenômeno desconhecido das ciências, da ufologia, da psquiatria)

Deito-me em areias virgens, de coloratura indefinível
onde palavras estranhas me acolhem
na vasta e escura ausência de sentido ou significado.

Penso então que 'isto sim é silêncio', embora tampouco exista ali este título.
E repouso absoluto sob céus primordiais.
Às minhas costas, vejo apagarem-se as últimas pegadas que deixei momentos atrás,
quando eu ainda era um outro, como eu.

Por fim, perco-me também do tempo, completamente só
atento ao desabrochar de uma flor rara
no topo da pele que separa meu corpo
do resto do universo.